Héros
Falam por ai que gato é um bicho
de sete vidas. Vou dizer pra vocês que eu tive um cachorro que superou qualquer
gato. Eu tive um cachorro que me deixou cheia de história para contar. Quantas
histórias loucas que até Deus duvidava. Eu tive o cachorro mais louco do mundo.
Tive o cachorro mais levado. E o mais medroso também. Ele era muito mais
forte que três de mim juntas. E acabei descobrindo que o que ele tinha de
forte, ele tinha de pesado. E, o mais importante de tudo, eu tive o cachorro
mais amado do mundo. Ele teve sorte como eu tive. Nasceu e cresceu em uma casa
cheia e amor. Uma casa louca com uma família mais louca ainda, mas que apesar
de todo trabalho, despesa e apesares... NUNCA o abandonou.
Meu Héros nasceu no quintal da
minha casa. Eu tinha uns 9 anos aproximadamente. Não me recordo o dia que foi,
nem o ano que foi... mas tem tempo. O pai dele morava com a gente, porque andou
até o portão na minha casa com uma coleira no pescoço e não achamos o dono dele
(que provavelmente o abandonou). E a mãe dele também morava com a gente, porque
minha avó levava ração para ela quando ela morava na rua e, um belo dia, ela
pulou dentro do carro. Claro que minha avó não teve coragem de enxotá-la...
adotamos mais uma. Em uma mistura de cadela branca e MUITO levada com pai
cinza, nasceram belos cãezinhos pretos. Alguns eram pretos com manchinha branca
e uma era toda branca e pequenininha. O filhote mais lindo de todos era o
diferente. Cinza com manchinhas pretas e brancas. Héros.
Queriam doar todos os filhotes.
Eu, como criança insistente que sempre fui, quis ficar com aquela belezura de
cãozinho. Ficamos. Lembro que a mãe não ficava quieta para dar mama e tínhamos
que dar mamadeira para todos eles para que não morressem. Tenho vagas memórias
desses momentos gostosos enquanto ele era neném. Lembro até do irmão Toty, que
era todo pretinho e tinha o formato de “T” em branco no peito. Ele foi doado
para o lixeiro gente boa que sempre passava pela servidão.
Héros cresceu muito rápido. A mãe
dele foi para outra casa e ele ficou com o pai. O que Rex tinha de calmo, Héros
tinha de agitado. Era preciso três pessoas para conseguir dar banho nele,
porque ele se mexia como se fosse um cavalo em rodeio. Rex nem ligava para som
alto, mas Héros ficava com tanto medo que nada segurava ele. Foram muitas
noites do lado de fora da casa fazendo carinho nele até altas horas até o show
ao vivo que rolava na vizinhança acabar. Se ele era assim com músicas, vocês
podem imaginar na época de fogos. Héros já assistiu a Copa do Mundo dentro de
casa junto conosco, vestindo a camisa e tudo. E, mesmo assim, ele tentava se
jogar da janela quando ouvia os estouros no céu. Perdi a conta de quantas vezes
ele entrou e urinou a casa inteira só para marcar território, além de
comer a comida que não era dele.
Perdi a conta também das vezes
que ele se machucou. Ficou 2 ou 3 vezes espetado no portão, literalmente. Uma
foi na copa, outra foi no ano novo. Essa última eu não sei como ele escapou.
Detalhe, ele tomou calmante usado por veterinários para apagar cães em
cirurgia. Pensamos que ele iria ficar chapadão, morgado. Fomos para a festa,
tranquilas. Ele ficou em casa, num canil cercado por arames. E quando chegaram,
encontraram-no espetado no portão e uma pequena fresta de arame aberta, que ele
conseguiu cortar com a boca. A partir desse ano, resolvemos interna-lo todo
final de ano. O veterinário de Correias já até sabia que Héros iria pra lá na
próxima virada. Isso, depois dele ficar no banheiro da veterinária perto de
casa e conseguir quebrar o blindex dela. Até na casa do vizinho esse cão já
entrou e fez estrago. Ah, que vergonha.
Héros escalava o muro da minha
casa que deve ter duas vezes a minha altura, sem se estrepar inteiro.
Inclusive, ele fez isso uns 3 dias antes de morrer. Como ele conseguiu fazer
isso sem morrer logo ali, eu não sei. Um dia abriram o portão da minha
casa de madrugada e Héros fugiu. Que desespero que foi. O facebook inteiro saiu
compartilhando a foto do cão vira-lata mais maravilhoso do mundo. Ligaram pra
minha casa dizendo que tinha um cão parecido com ele. Peguei um taxi e fui para
o local, sem acreditar muito, porque era LONGE demais da minha casa... e era
ele. Com os olhos pulando pra fora e o coração acelerado. Aquele dia ele andou
tanto que depois nem quis mais descer pro quintal de baixo de tão traumatizado
que ficou (na minha casa o canil fica um andar acima).
Ele era um cachorro tão bonzinho
e tão bobinho que até a Lua, que é 10 vezes menor, fazia o que queria com ele.
Beijava na boca, passava por cima, cheirava ele todo. Ele latia para quem
passava do lado de fora do portão e colocava medo em qualquer estranho que entrasse em casa, mas morder alguém, ele nunca mordeu. Quer dizer, colocava medo se a
pessoa entrasse em silêncio, porque se entrasse com um mega fone ou uma caixa
de som em volume alto, conseguiria assaltar a casa inteira e ainda levar ele
junto, de tão medroso que era.
Hoje completamos 8 dias em
casa sem ele. Ele já estava tão velhinho que não latia tanto quando alguém
chegava e o portão fazia barulho. Ele já estava andando com dificuldade. Estava
mais magrinho. Mas é muito triste sentar na cozinha, olhar pra cima e não
encontrar ele ali, deitado e olhando pra nós.
No dia 10 de janeiro eu não
imaginava que o perderia logo depois de chegar do trabalho. Mas fico muito
feliz em saber que ele me esperou chegar para que eu tivesse a oportunidade de
sentar ao lado dele e lhe fazer um último carinho. Pude me despedir, rezar por
ele, agradecê-lo por ter sido meu cachorro e lembrá-lo que ele nunca será
esquecido por nós. Assim como o Rulf e Rex não foram, assim como Kalu nunca será
também.
“Família quer dizer nunca
abandonar ou esquecer.”
Ah Júlia sei muito bem como é isso... é um vazio no peito, um buraco que parece que nunca irá fechar. Ficamos suspirando pelos cantos, uma tristeza que vem lá do fundo!
ResponderExcluirEu tinha uma Pastora Belga, (Dalila seu nome), toda pretinha, linda, inteligente, companheira, que entendia tudo que falávamos. Ao contrário do Heros, gostava de fogos de artifício e amava assistir futebol. Era a minha vida aquela cachorra!
Mas a idade chega para todos, inclusive para os nossos bichinhos e como o Heros o dia Dela chegou. Eu estava trabalhando e ao chegar em casa minha mãe me disse: _ Dalila está o dia inteiro deitada no mesmo lugar, não quer comer e nem beber nada. Eu aproximei Dela no quintal e ela estava lá fiel como sempre, me esperando para se despedir. É como se ela quisesse agradecer por tudo que vivemos juntas. Os passeio e caminhadas que fazíamos todos os finais de semana, as brincadeiras, as danças, enfim todo o carinho! Abracei ela e disse o quanto ela era importante para mim! Que eu a amava muito, que agradecia a Deus por ter me dado ela de presente. Disse Tb que ela descansasse em paz e que nunca iria esqueça-lá! E ela foi indo embora, enquanto eu passava a mão sobre sua cabeça, seu fôlego foi se indo e ali se interrompia uma amizade eterna!! Estou escrevendo estas palavras em meio a muitas lágrimas, pois lendo a sua história me senti como se fosse a minha história sendo narrada. O tempo Julia, faz amenizar a nossa dor e fica as boas lembranças e a certeza que eles são únicos em nossas vidas. Nada substitui o amor e saudade que sentimos deles!