E você ai reclamando da vida...
Ontem eu tomei um choque de
realidade. E desde então, minha cabeça não para de pensar e analisar as coisas
e as pessoas. Percebi que sou tão ignorante em certos assuntos. Percebi que a
sociedade não tem conhecimento de muita coisa e, com isso, acaba não pensando
que existe um próximo que sofre dificuldades diárias inimagináveis. E, ao tomar
conhecimento de algumas dessas dificuldades, talvez, algo mudasse. Por que tudo que eu via ontem, hoje já vejo
com outros olhos. Olhos cheios de vontade de ajudar e tornar esse mundo mais
acessível a todos. E, por isso, resolvi fazer esse texto.
Fui visitar um amigo que sofreu
um acidente há uns meses atrás e, infelizmente, perdeu os movimentos da perna.
E eu nunca tive contato com cadeirantes, não conheço nenhuma outra pessoa que
esteja numa cadeira de rodas e, para falar a verdade, são pessoas que eu vejo
raramente na rua. Isso até ontem, por que talvez eu não visse tanto por não
reparar, por que elas existem – e não são poucas. Ou talvez eu não veja tanto,
por que vivemos num país que não tem estrutura nenhuma para essa população.
Quase 46 milhões de brasileiros
têm alguma deficiência física. Porém, é quase impossível ver um deles por ai
sozinho nas ruas, por que as ruas do Brasil são completamente desestruturadas
para atender as necessidades dessas pessoas. Quanto mais desenvolvido for o
país, mais condições ele irá oferecer ao deficiente físico. Pode reparar
galera. A próxima vez que você for sair na rua, repara isso aí. Postes no meio
da rua, ausência de rampas, restaurantes e lojas completamente sem preparo,
buracos, até universidade sem acesso, poucos transportes público, e o resto só
quem entende disso que pode concluir essa lista. E tenho certeza de que seria
uma lista MUITO grande.
Segundo o IBGE, num levantamento
do Censo de 2010, o Brasil segue muito atrasado no quesito acessibilidade.
Somente 4,7% das vias urbanas contam com rampas para cadeirantes. As situações
mais críticas são das regiões Norte e Nordeste. Em São Paulo, 9,2% das casas
com ruas próximas com rampas adequadas para cadeirantes. E no Rio de Janeiro,
8,9% dos domicílios com característica semelhante.
Essa pesquisa comprova que o
Brasil tem muito que evoluir ainda. Não bastam as dificuldades inevitáveis que
são enfrentadas todos os dias, ainda existem os problemas que são possíveis de
mudar, mas permanecem “esquecidos”. A vida dessas pessoas seria tão mais fácil
se a rua e os lugares fossem apropriados para todos – e ninguém precisasse passar
por nenhum tipo de constrangimento.
Sim, foi necessário um amigo para
me abrir os olhos em relação a isso. Se não fosse por ele, talvez eu não fosse
reparar nessas coisas e nem fazer essas pesquisas. E eu não queria que fosse
ele a me mostrar essa realidade. Porém, além de tudo isso, percebi que os
problemas da vida são tão pequenos. Quem sou eu para reclamar de qualquer
coisa. Ontem, antes de visita-lo, eu estava num dia meio estressado. Muitas
coisas na cabeça. E ao sair de lá, as minhas coisas se tornaram mínimas, quase
invisíveis. Por que é normal a gente se colocar no lugar do outro,
principalmente quando é alguém que gostamos. E, acreditem, isso mudou
inteiramente meu dia. Obrigada por isso.
Eu só quero que esse país se
torne um lugar melhor para mim e para todos. E ainda estamos um pouco longe disso,
mas saber da necessidade do próximo pode ser um primeiro passo. E, pra esse meu
amigo, eu desejo TODA A FELICIDADE DO MUNDO. Nascer de novo não é pra qualquer
um não e, se você conseguiu isso, já é um vitorioso.
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