O dia em que dançamos uma música imaginária

Já era mais de onze da noite. Eu estava um pouco chateada, tinha tomado um banho frio por conta do calor, lido um livro, arrumado a casa. Embora não tenha feito quase nada o dia inteiro. Para muitos, uma sexta feira animada, para mim, apenas mais uma como outra qualquer em que chego da aula e deito na cama com sono. Coloquei meu pijama, tomei um copo d’água.  Foi então que a campainha tocou. Achei estranho. Fiquei assustada. Essa hora? Quem poderia ser?  Minha vó sempre diz: “Não abra a porta pra ninguém.” Confesso até que fiquei com medo de chegar ao olho mágico para ver quem estaria do outro lado. Então, num passo bem leve, sem fazer barulho.... Cheguei à porta. Se fosse alguém estranho eu fingiria que não tinha ninguém em casa ou ....Sei lá o que eu faria. E então, para minha surpresa, tinha um sorriso bem familiar aguardando a porta abrir. Não acredito – era ele.

-Está fazendo o que aqui? – Abri a porta e me deparei com aqueles olhos castanhos me encarando novamente – Estava sério e ao mesmo tempo com um sorriso no canto da boca. Acho que ele estava ansioso para saber a minha reação.  Eu sorri meio envergonhada, afinal estava de pijama. Usando uma camisola meio velha com um Mickey sorrindo na frente. Mas só reparei isso segundos depois de abrir a porta. Vi que ele percorreu o olhar pelo meu corpo até voltar aos meus olhos.  E então, ainda sério, levantou as sobrancelhas rapidamente duas vezes, como se tivesse feito alguma pergunta mentalmente e esperasse que eu a respondesse. 

Eu apenas sorri em resposta.

Ficamos um tempo parados ali na porta, sem dizer nada. Eu tentando obter a informação de que era realmente ele ali na minha frente e ele, provavelmente, se divertindo com a minha reação.

- Não quis ir à festa, resolvi vir pra cá. E ai, posso entrar? – Ele foi dizendo enquanto dava pequenos passos para frente, já quase entrando na minha casa. Puxei, delicadamente, a gola da blusa o forçando a entrar.  “Entrar? Não, imagina.”

Fechei a porta.

 Enquanto virava a chave para trancar, senti suas mãos em volta de mim, num abraço gostoso e envolvente que me fez sentir aquele aroma que só pertence a ele.  A gente se abraçou por um tempo com gestos de ternura e carinho. E então nos olhamos por mais um pouco.  É impressionante o fato de como eu gosto de olhar para ele. Pareceu-me, naquele momento, que ele também gosta de olhar para mim.

- Não acredito que você está aqui.

Ele sorriu, sabendo que eu tinha gostado da surpresa. Pegou minha mão e, em passos curtos, foi me guiando ao quarto. Depositou seus pertences na minha mesinha ao lado da cama. Eu acho engraçado o modo como ele chega já se sentindo em casa.

Daquele momento em diante minha noite foi um conjunto de risadas, beijos, carinhos, arrepios, orgasmos, desejos, conversas, mais beijos, mais risadas. Um suspiro aqui, um carinho acolá. Carinho daqueles tão delicados que arrepiam até os pelinhos do pé. Eu apreciei cada detalhe e cada segundo daquela madrugada de sexta-feira. Desde o momento em que pude sentir seus lábios tocarem minha nuca e suas mãos acariciarem minhas costas enquanto me despia. Ao mesmo tempo em que eu mordia o lóbulo de sua orelha esquerda e minhas mãos procuravam o botão de uma calça pronta para ser retirada. Até o momento em que ele finalmente adormeceu ao meu lado, com sua mão entrelaçada a minha.

A gente se curtiu num ritmo gostoso de uma música imaginária. Dançamos a nossa música, talvez a minha preferida.  

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