Coisa de criança.
Ela tinha apenas seis anos quando o conheceu. Estavam se
alfabetizando ainda e nem ela e nem ele sabiam o que queriam fazer da vida. Ela
fez suas amizades femininas e ele, amizades masculinas. Ele brincava de bola e
ela de boneca. Ele tinha três grandes amigos, ela tinha um grupinho de cinco
meninas. Ela brigava quase todos os dias com suas amigas, coisa de criança,
logo ficava tudo bem. Ele não brigava muito com os amigos, eram mais ativos,
estavam sempre correndo pela escola. Ela costumava sentar no canto esquerdo da
sala e ele no canto direito.
Os dois foram crescendo e passando de série juntos, sempre na mesma sala.
Alguns amiguinhos saíam da escola e outros entravam. O ciclo de amizade dela
continuava o mesmo e o dele também. Ele falava com várias pessoas da sala, ela
era mais quieta. Tinha apenas suas amigas do grupinho. Ele era um menino muito
bonitinho e simpático, ela era uma menina linda e um pouco tímida. A turma
costumava zombar bastante dela, coisa de criança, sempre tem alguém para ser a
vítima. Ela não gostava muito disso, às vezes chorava quando chegava em casa,
mas ficava sempre quieta na sua, só ouvindo. Ele não era do tipo de menino que
zoa os outros, mas ria as vezes.
O tempo foi passando e eles deixavam de serem crianças pequenas e estavam se
tornando maiores. Os sentimentos estavam um pouco mais confusos e, aos poucos,
eles conseguiam perceber o que era certo e errado. Ela começou a reparar demais
nele e percebeu que ele tinha um sorriso extremamente lindo. Ele continuou com
suas amizades, sem olhar muito para ela. Porém, ele não a zoava e ela sabia que
isso era algo que o tornava ainda mais especial.
Certo ano, ele comunicou à turma que ia sair da escola e morar em outro país. A
turma, a maioria muito unida, resolveu fazer uma pequena festa de despedida. E,
naquele dia, ela percebeu o quanto gostava dele. Não queria que ele fosse.
Queria que eles fossem, pelo menos, amigos. Os dois não se falavam muito. Não
tinham muitos amigos em comum, por mais que fossem da mesma sala durante anos.
Ela chorou por alguns dias.
O tempo passou e eles cresceram. Ela nunca mais ouviu falar dele e ele nunca
mais ouviu falar dela. Ele se tornou a primeira paixão da infância dela e, por
isso, ela jamais o esqueceria. Até que, um dia, eles se esbarraram por ai. Ele
estava bem maior e com um corpo muito bonito e ela estava alta e não mais com
corpo de menina. Ele reparou que ela havia se tornado uma bela mulher. E ela
percebeu que tudo nele poderia ter mudado, exceto aquele sorriso. Porém, ambos
estavam iguais, eram apenas adultos. Ela sentiu uma alegria enorme por ter
encontrado ele. Talvez, para ele, não faria diferença encontra-la ou não... Ele
não sabia que ela estava se declarando para ele enquanto o olhava. Ou, talvez
ele soubesse, porque o beijo que deu nela foi quase uma resposta a tudo que ela
“disse” – em pensamento.
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